Longa de Alberto Araújo se diferencia da maior parte da produção comercial que se concentra nas comédias
Ao filmar um drama, o diretor estreante Alberto Araújo segue caminho contrário à grande produção de comédias do cinema nacional na atualidade, mas ele encontrou um grande parceiro para a empreitada: o ator Murilo Rosa. O longa “Vazio Coração”, de Alberto, protagonizado por Murilo, chega na sexta-feira às salas de cinema de todo o Brasil. “É um filme que vai na contramão do atual cinema nacional: um drama familiar, não tem violência, não tem tiro, não tem nudez. Não é uma comédia, esse gênero que é um grande filão do cinema nacional”, explica Murilo, que veio a Belo Horizonte com o diretor para divulgar o filme.
A relação de Alberto e Murilo se estreitou e o envolvimento do ator foi tão grande, que ele se tornou produtor associado e ajudou na distribuição do filme. “Às vezes você tem um belo resultado em mãos, um ótimo filme, mas não consegue fazer com que ele circule. Daí, entrou o Murilo na jogada”, comenta Alberto. O fato de ser um diretor mineiro (natural de Patrocínio) também é algo que vai contra a corrente da produção cinematográfica do país, segundo ele próprio, ainda muito dominado pelo eixo Rio-São Paulo.
Família. O filme retrata a história de Hugo Kari, cantor de música popular, de meia-idade, uma espécie de intérprete de música romântica sertaneja (Murilo Rosa chegou a brincar em outras entrevistas que se sentia feito Luan Santana fazendo o personagem). A história dele é marcada por um drama familiar: a morte da mãe.
Ao pegar o avião particular do cantor para ir a um prêmio, evento em que o filho receberia um prêmio, ela morre quando a aeronave não resiste a uma tempestade e cai. A tragédia afasta Hugo de seu pai, Mário, interpretado por Othon Bastos, que o culpa pela morte da mulher e traz à tona antigas desavenças entre os dois em relação à carreira escolhida pelo filho.
Além disso, o filme mostra principalmente a tentativa de reaproximação de Hugo com o pai. O drama não tem nenhuma inspiração em acontecimentos da vida real. “A inspiração é desse valor familiar que a gente tem aqui em Minas. Meus pais, graças a Deus, estão vivos. É esse apego em família que o mineiro tem mais do que em outros locais. Aquele lado ranzinza do personagem do Othon, não ranzinza, mas sistemático, é muito inspirado no meu pai. O resto é mesmo ficção. Eu gosto do tema drama familiar”, aponta o diretor.
A escolha do protagonista, conta ele, não se deu de forma imediata. “Quando estava escrevendo o roteiro eu até imaginava que seria um ator mais novo. Lá atrás. Cheguei a pensar nisso. Só que o tempo passou e, hoje, eu acho superbacana esse conflito no Hugo Kari naquela idade. Se fosse um conflito num cara de 25 anos, seria normal, porque essa é uma idade dos conflitos. O que eu acho que funcionou foi o fato de ter um cara bem-sucedido, maduro, construindo uma família, com essa necessidade da busca do pai. Não se trata de um rebelde sem causa”, explica Alberto.
CANTOR. “Vazio Coração” também representou um novo desafio na carreira do ator Murilo Rosa. Para viver o astro da música Hugo Kari, o ator se enveredou pelo canto e em todas as canções é o próprio Murilo quem interpreta. “O Murilo chegou a interferir, no bom sentido, opinar na construção de melodias de algumas músicas. Ele realmente incorporou essa questão do cantor. Não é aquele filme em que o ator vai lá, cumpre seu papel e pronto”, explica Alberto.
Para o ator não havia outra alternativa que não fosse viver realmente esse personagem e levar adiante a profissão dele. “Se fosse uma voz gravada, seria um mico. O cinema não permite isso. Você precisa estudar todo o universo que envolve o personagem. Acho que atuar é um ato intelectual também, mas não só isso. Atuar é agir. O ator é muito mais ação que pensamento”.
“O filme é uma grande homenagem à família. O Hugo é louco pela família, porém tem um buraco. Perdeu a mãe e não quer perder o pai.”
Murilo Rosa, protagonista.
Fonte: otempo.com.br